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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Um bunker, feijoada e índios preguiçosos!


Nos últimos tempos tentei fazer com que as pessoas acreditassem que eu não tenho qualquer espécie de medo, que achava que os Maias eram uma cambada de índios preguiçosos que não gostavam de acabar os seus calendários e que iria passar a noite de 20 de Dezembro a relaxar.
A verdade é que, como toda esta gente que ocupa até o mais pequeno espaço do planeta terra, tenho medo que o céu caia. Como tal (e tenham em consideração que estou aqui a confessar a profunda cobardia que me assola a alma sempre que uma profecia claramente falsa vem à baila), passei grande parte desse dia à espera do amanhecer, de olhos fixos no relógio a tentar contar os segundos que faltavam para que fosse dia 21 no outro lado do mundo e desejando às pessoas do Oceano Pacifico a melhor das sortes.
Mas atenção! Eu tinha tudo preparado! Tudo memorizado de trás para a frente e da frente para trás que assim é que é!
No preciso momento em que a Micronésia ficou mais avançada no calendário do que o nosso querido Portugal, liguei a televisão e esperei ansiosamente por noticias. Não houve nenhuma. Conclusão que daí retirei? Estava tudo morto!
Levantei-me muito calmamente, tentei não incomodar ninguém e dirigi-me à despensa. Peguei no meu suplemento vitalício de feijões em lata, numa única colher, abri a passagem secreta que normalmente usaria para comer bolachas sem que ninguém visse as calorias a nadarem até às minhas coxas e desci para o meu bunker que tinha, escrita na porta, a seguinte mensagem: " Bunker 123! Edição especial: Mentecapto!".
Tinha, há algum tempo, instalado lá uma poltrona e uma conveniente grade de cerveja. Sentei-me, dispus o feijão em lata à minha volta e esperei que o mundo explodisse enquanto brincava com a colher. Tentei também não imaginar a minha vida futura, à deriva no espaço, uma ideia deveras assustadora que tentei a todo o custo eliminar dos meus pensamentos.

Foram cinco os dias que estive fechado atrás do armário das bolachas a tentar convencer o meu estômago de que o feijão em lata era na realidade a feijoada com repolho que a minha avó tão bem fazia. Sim, fazia, coitada, onde estaria ela naquele momento?

O que é certo é que não houve nenhuma explosão e como tal, e até porque não consigo contrariar a minha curiosidade, saí do bunker, a medo, com esperança de evitar qualquer encontro com mutantes da laia do José Castelo Branco.
Os carros continuavam a circular lá fora. Ergui a minha sobrancelha preferida num ar inquisidor e procedi a dar os passos necessários para chegar ao jardim. Já lá, levantei os braços e gritei muito alto: "Então, hã? Quem é que tinha razão, sua cambada de toscos?" 
Afinal o mundo não tinha acabado, já devia estar a contar com isso.
Claro que chamaram a policia, já que eu não dava noticias e toda a gente pensava que eu tinha sido raptado por um dos mais perigosos senhores da guerra de El Salvador e que devia estar metido em alguns negócios nada legítimos.


O que estou a tentar transmitir com esta amostra da minha grande coragem?

Enquanto o sol não explodir, o mundo não acaba, senhora sociedade, pode por favor deixar de me chatear a molécula com todas as parvoíces que por aí aparecem?...Já não se pode estar sossegado.

Vive la Resistance!

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