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sexta-feira, 10 de maio de 2013

A Ascensão dos Ratos

Foi com um misto de pesar, incredulidade e asco que assisti à incrível ascensão dos ratos.
Estava em sentado em frente da minha figueira favorita, prostrada no meio de uma estrada bastante movimentada e brotando directamente do alcatrão, a ver o tempo passar, quando de todos os edifícios que rodeavam aquele poluído local, saiu uma mancha negra, facilmente confundível com a estrada. A principio, porque o meu raciocínio tende a fugir para os locais menos razoáveis, pensei que por algum motivo a NASA tinha deixado um dos seus contentores de matéria negra, adquirida e armazenada sabe-se lá com que tecnologia, derramar-se nos esgotos, por vezes muito pouco escondidos, do nosso querido, amado e apetecível Portugal. Depois, considerei que fosse petróleo, ainda posteriormente, a água suja de um mendigo, e finalmente, depois de me ter apercebido das pequenas partes cor-de-rosa polvilhadas naquele imenso mar,também conhecidas como caudas, apercebi-me que eram ratos.

Não os normais ratos que, eventualmente, todos nós apanhamos numa ratoeira ou vemos a correrem pelos cantos do nosso jardim. Estes usavam sapatos italianos, fatos bem engomados e empunhavam pastas cheias de papéis potencialmente letais. Tinham travado conhecimento com ratos estrangeiros, muito mais avançados, e agora transportavam-se nos carros que um dia humanos tinham inventado. Todos eles usavam óculos de sol, como se por algum motivo temem-se que a luz do dia pudesse ferir a sua íris demasiado sensível devido a todo o tempo que passaram a chafurdar nos mais recônditos locais da nossa miserável sociedade, e o seu cabelo parecia viscoso, bem penteado.
Espalharam-se, como a praga que eram, pelas ruas, vasculhando por todos os locais as mais pequenas oportunidades de adquirir um pouco mais do precioso papel que o Homem tornou tão valioso e um pouco mais de poder.
Ninguém parecia estar preparado para eles, pareciam nem sequer saber que existiam, eram presas fáceis para aqueles animais de dentes salientes que roubavam reformas, ordenados, casas e todas essas outras possessões importantes a torto e a direito.
Pobre de quem apresentava resistência, logo varrido para debaixo um tapete feito de pêlos de homem, roubados a um Seguro que do nome não tinha nada!

Eu subi para a figueira. Fiquei lá muito sossegado a observar tudo e a ponderar sobre qual teria sido o momento em que os ratos finalmente tinham conseguido arranjar força suficiente para chicotear tanto os homens que um país inteiro ficasse especado enquanto eles punham os seus planos maléficos de domínio do nosso pequeno Portugal em marcha.
"Viva o 25 de Abril", gritei eu a alguns rapazes de aspecto valente que passaram junto à figueira. "Quem foi o primeiro rei de Portugal?", perguntei-lhes também. "D.Miguel VIII?", foi a sua duvidosa resposta.

Foi com a abanar a cabeça em sinal de reprovação que me lembrei das minhas convicções politicas. "Os ratos estão certos e o Seguro tem o pêlo arrepiado".

Confissão: Eu até gosto do Gasparzinho (o fantasma).

Vive la Resistance!


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