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quarta-feira, 27 de março de 2013

Inevitabilidades

É, sempre foi, será e como tudo neste mundo provavelmente também deixará de ser difícil para o comum mortal atravessar aquela fase da vida em que todo e qualquer objectivo é perdido e dá lugar a um impressionante e resistente tédio que teima em dizer: "Por que raio estou eu aqui a aturar isto até que os meus olhos se fechem?"
Não é muito complicado compreender o porquê disso suceder. Afinal, há umas quantas inevitabilidades na vida que nos chateiam, um milhão das quais toda a gente pode evitar, excepto uma, que também é aquela que evita as outras todas, a morte. Não é mesmo fácil, premir um gatilho com uma arma apontada à cabeça ou engolir uns quantos comprimidos, e acabar com a tortura que é aguentar todas as pessoas mesquinhas, irritantes e assim assim que por aí andam e tornam o mundo enfadonho?

Suicídio...

Gosto muito dessa palavra, talvez por ser atractiva ou por transferir ao ser humano uma certa dose de poder. "Eu posso tirar a minha vida!" hão-de ter pensado muitas grandes mentes ao longo da história..."Não posso mover montanhas, voar, acabar com o mal ou até manter o bem, mas posso acabar com a minha vida!" e que bem que lhes deve ter sabido. Sabiam, até talvez os pobres neandertais, que a única coisa que podiam garantir, na tundra gelada que percorriam, era que a sua vida, renegando todo o instinto natural, podia ser terminada, obliterada. Para tal apenas precisavam de uma vontade férrea, coisa rara na altura, mas sem dúvida já uma preciosidade.

Dá-me uma vontade de rir, esta coisa toda que andamos aqui a fazer, é incrivelmente ridículo que vivamos tanto tempo e trabalhemos e sonhemos e choremos e depois morramos como um simples animal, e aí de quem diga que o problema do homem não é a emoção!
Será que não podia, ao som de uma música épica, morrer a lutar por uma causa, a ser um herói ou a fazer algo que ninguém nunca antes tenha feito? Será que tenho de me matar toda a vida, a estudar e trabalhar, para ganhar uns quantos pedaços de papel e depois morrer sem lhe poder fazer nada?!
Esta sociedade é um cemitério, nada mais.

Eu quero viver, viver perigosamente como se fosse um personagem de filmes de acção, fazer o que gosto e aquilo que gostaria de que os outros gostassem, viver para sempre, não porque finalmente alguém descobriu a pedra filosofal, mas porque realmente o mereço. Quero ser imortal porque escrevi, porque fiz arte e alguém soube reconhecer o seu valor em vez de dar valor a dubstep! Quero viver através das minhas personagens, desde a que admira a morte até ao que se pela por poder ou até mesmo o corajoso que é enganado por todos e continua a lutar.

Há quem diga: "Ah e tal todos mereciam um lugar na história, os verdadeiros heróis são aqueles que morreram sem reconhecimento...". Balelas!

Eu mereço ser imortal? Mereço que se lembrem de mim daqui a quinhentos anos? Não! Não! NÃO! Talvez nunca mereça! Mas faço por isso, tento, e que nojo me mete quem não faz nada para o merecer, que NOJO!

Às vezes apetece-me encher o peito de coragem e cometer suicídio, outras vezes apetece-me viver, outras chorar, mas há algo que nunca me falta à medida que escrevo este texto, ao som de música épica, de cariz raivoso. Nunca me falta a vontade de ser grande, gigante, enorme, um incrível homem. Que daqui a dois mil anos, quando a bíblia estiver obsoleta, alguém diga: "Olha, este senhor fez tal, tal e tal e foi um grande homem". Qual não seria a minha realização se pudesse ouvir isso, mas a inevitabilidade não me deixa.

Vive la Resistance!

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