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quarta-feira, 13 de março de 2013

Deus de um real inexistente

Noutro dia tentei controlar a chuva. Por algum motivo, sempre que saía do sossego de um edifício, começava a chover torrencialmente e, quando conseguia abrigar-me novamente, parava. Achei aquilo um tanto estranho, afinal, não podia ser apenas devido à minha presença que as nuvens se espremiam e deixavam cair uma tromba de água nos pobres mortais.

Resolvi experimentar.
Pus um pé fora da porta e...nada! Pus a perna...nada!Pus a cabeça de fora, convencido de que finalmente poderia sair sem guarda-chuva...ventania total, granizo...tive de trocar de roupa!
Não podia ser coincidência, não acredito que existam e até talvez houvesse uma outra pessoa, do outro lado da rua, a fazer o mesmo que eu e a sentir-se especial...até que me lembrei de uma coisa.
Há algum tempo tinha ouvido alguém dizer, que a chuva eram as lágrimas de Deus, triste pelos pecados humanos. Pecador sou de certeza e outras coisas que tais também, mas assim o é o resto do mundo...
Depois, e por favor tenham em mente de que não compreendo os padrões de raciocínio do meu cérebro, lembrei-me de uma teoria filosófica qualquer que dizia que a vida poderia ser um sonho e que nós tínhamos todo o controlo sobre ela sem o saber, além de pensar também que Deus devia ser uma criancinha, para estar sempre a chorar e não aguentar, como os outros.
Conclusão, considerei-me um deus imediatamente (todos conhecem o meu lado convencido) e saí imponentemente de casa sem que qualquer chuva desafiasse a minha vontade.

Passei o dia todo a fazer o que me apetecia. Beijar aquela rapariga que nunca gostou de mim, conduzir um carro incrível sem que o tivesse de comprar, dar um murro ao Justin Bieber, participar numa batalha épica em que por algum motivo os inimigos eram galinhas, entre outros.
À noite pus-me a pensar. Se sou realmente capaz de controlar tudo e a teoria se prova real, quer dizer que a vida não é real, que tudo é uma invenção e que sou uma mente, genial, à deriva num imenso vazio. E o meu dinheiro, vale quanto nesse vazio? E as pessoas existem lá? Que tristeza de vazio que esse é, provavelmente nem uma máquina de venda automática tem.
"Não quero ser deus! Não quero ser deus de um real inexistente!" gritei eu. "Que tédio!"
Acordei algum tempo depois, quando no meu sonho chorava na banheira. Bati com a cabeça na mesinha de cabeceira e soube que a dor e o enorme galo eram reais, tudo tinha sido um sonho...e ainda bem!

Coitado do homem que tivesse de nos olhar pelas nuvens, se houvesse algum!

Vive la Resistance!

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