Páginas

quinta-feira, 14 de março de 2013

Carta a Quem Irei Um Dia Perder

29 de Julho de 2043, Praga

Querida pessoa que desapareceu da minha vida,

talvez seja dificil para ti lembrar os maravilhosos momentos que passamos juntos, apesar de todos os defeitos que em conjunto conseguíamos ter. Entre risos, seriedade e picos de fúria, foram imensos os momentos em que, sentados um frente ao outro, tivemos o mundo a nossos pés.
Discutimos tudo o que de mal havia no mundo e vê lá tu se o mundo não continua igual e eu já deixei de me importar, continuando, ainda assim, a implorar que ainda tentes mudá-lo. Imaginamos um futuro perfeito em que seríamos ricos, teríamos uma família feliz e por um qualquer milagre todos os nossos sonhos se realizariam, lamentamos que a vida fosse tão difícil,  tão impossível de ser perfeita, sem nada saber da sedutora mulher que ela é, concluímos que não adiantava lutar e fizemo-lo durante tanto tempo que nem saberíamos viver sem isso.
Foram tantos, tantos os dias em que te sentas-te à minha frente, tantas as palavras que da tua boca saíram e tudo se perdeu. Enormes montanhas parecem ter-se formado neste mundo, tantos vales parecem ter sido sulcados entre nós e pensar que um dia disseste, " Vais conseguir!", e que te invejei por conseguires imaginá-lo quando eu tinha a certeza que iria falhar miseravelmente.
Glória, queríamos tanta glória, queríamos ser nobres, que o mundo nos reconhecesse como os melhores seres humanos que alguma vez tinham vivido e ter tudo. O que nos aconteceu? Por que deixámos tudo esvair-se e deixámos a nossa chama extinguir-se? Por que nos separámos e não concluímos os projectos que tínhamos juntos, que nem começamos, que nem planeámos, mas de que algum modo estavam explícitos nas nossas palavras, nos sorrisos e em tudo aquilo que fazias para me irritar. "Só irrito quem vale a pena", dizias tu. "Será que ainda valeria a pena?", pergunto eu hoje.

Foste-te, foste-te e agora vivo num passado muito mais querido e apetecível do que este presente em que nada do que queria se concretizou e o pior, o pior é que tenho a certeza de que contigo a meu lado tudo se teria concretizado e teria sido feliz, conquistando tudo aquilo que outrora os imperadores tinham perdido, contigo.
Não sei que mais dizer, palavras não são suficientes.

Do teu,
André.



Vive la Resistance!

Sem comentários:

Enviar um comentário