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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Cinto de Órion

Ocupo-me a contá-las. Três, são apenas três, tal como foram e daqui a mil anos ainda serão. Tornou-se já um ciclo vicioso, revoltante, enlouquecedor. Reconheço isso e no entanto não consigo deixar as estrelas, tantas como os deuses do cristãos.
É vã a minha fixação por elas, não ignóbil ou não merecedora de atenção. Transcende-me e toda e qualquer determinação que pudesse reunir na minha fraca mente humana não teria poder suficiente para que meu objectivo se cumprisse. Apenas a vontade do divino poderia deixar-me ver, ver o esquecimento que preenche o céu nocturno.
Sim, vejo a luz. Vejo as flamejantes fontes de vida a anos daquilo que delas foge.
No entanto, não é isso que procuro.
No cinto de Órion tento, pelo canto do olho, discernir qual dos seus três adornos perdeu já o brilho, qual deles deixou de iluminar milhares de mundos e se transformou em gás e poeiras.
Afinal, se estes gigantes desaparecem tão facilmente como os homens, terá a vida sentido em algum dos cantos do universo?
Resta apenas sonhar e ter esperança de que aquando do meu mergulho no vazio, como olho eu hoje para luzes há muito apagadas, alguém pense na minha memória perdida.

André Moreira, LaResistance

Vive la Resistance!


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